Projeto promove justiça socioambiental e resiliência feminina no semiárido
Uma iniciativa da Rede Pintadas, através da Plataforma de Mulheres de Base Praticantes de Resiliência e com apoio da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), está atuando para fortalecer as capacidades das mulheres do Território Bacia do Jacuípe. O objetivo do projeto Mulheres do Jacuípe: construindo justiça socioambiental e resiliência climática no semiárido é contribuir para a construção de um mundo mais sustentável e equitativo tendo mulheres e jovens como protagonistas das mudanças sociais. “Foram mais de 300 organizações de todo Brasil inscritas, sendo que 24 foram contempladas. A Rede Pintadas é uma delas. Nosso foco é empoderar as mulheres para atuar a favor da pauta climática”, explica Neia Bastos, que integra a coordenação da Plataforma de Base de Mulheres da Rede Pintadas.
Vulcões, terremotos, enchentes, como a catástrofe recente no Rio Grande do Sul, são sinais da emergência climática em muitas partes do mundo. A seca é igualmente avassaladora. É o alerta que a Plataforma Mulheres de Base Praticantes de Resiliência do Brasil, criada em 2019, iniciativa da Rede Pintadas, vem dando. Agora, em parceria com a coalização internacional Huairou Commission, o projeto tem o objetivo de capacitar líderes femininas para enfrentar desigualdades de gênero e responder aos impactos climáticos, promovendo resiliência, desenvolvimento sustentável, justiça social e econômica. “O semiárido não é visto nos grandes processos mundiais. Nosso grito é para lembrar que o semiárido existe. A seca é o fenômeno climático que mais mata no mundo e não tem visibilidade porque mata aos poucos”, alerta Bastos.
Região marcada pela escassez hídrica e altos índices de desigualdades sociais, o semiárido perdeu 300 mm de chuva nos últimos anos, o que afeta cada vez mais a produção de alimentos, indicadores econômicos, a qualidade de vida das pessoas e favorece a violação de direitos humanos. O resultado é a migração e perda de jovens com capacidade produtiva para as grandes cidades, prejudicando a possibilidade de respostas para esses problemas.
Ranielle Lima dos Santos, 22 anos, optou por ajudar a construir ações de resiliência. Continua vivendo no semiárido. Orgulha-se de fazer parte da terceira geração de Lameiro, situada na cidade de Pintadas, Bahia. A comunidade assentada é marcada pela luta pelo direito à terra e pela resiliência de mulheres agricultoras por melhores condições de vida e de trabalho através de movimento social local no embate à grilagem de terras. Ranielle está participando dos encontros presenciais e remotos e tirando aprendizados importantes. “O diálogo é fundamental para discutir estratégias para futuras intervenções e execução de ações urgentes para mitigar os efeitos da seca”, avalia a estudante de Licenciatura em Letras/Literaturas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Foi a atuação na Rede Pintadas, através do Programa Cadenas de Valores, que viabilizou o primeiro emprego da jovem quilombola. “Tive a oportunidade de ecoar minha voz em prol do pertencimento de movimentos sociais, a garantia de direitos coletivos e individuais”, destaca. Preocupada com a escassez de jovens nos espaços de debate e transformação social, Rannielle dos Santos aposta na visibilidade e valorização das mulheres e jovens para a construção de diálogo e proposição de soluções com órgãos públicos e sociedade civil. “Projetos como esses me permitem rememorar de forma mais consciente a luta de minha comunidade e das minhas matriarcas, minha vozinha e minha mainha, a partir da compreensão das possibilidades de construção coletiva”, atesta.
As mudanças climáticas são um desafio global, mas afetam as populações mais vulneráveis de forma desproporcional. Mais de 60% do território baiano está localizado na região semiárida, com imensas áreas vulneráveis à desertificação e a ausência de políticas públicas. Vale lembrar que Pintadas foi o primeiro município do Nordeste a universalizar a cobertura hídrica na zona rural por meio de tecnologias sociais. O projeto Mulheres do Jacuípe está alinhado com a Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU), a qual estabelece um conjunto de objetivos para o desenvolvimento sustentável para promover um mundo justo e igualitário para todos e todas. “O projeto é resultado de uma agenda de lutas”, conclui a jornalista Lourivânia Soares. Natural de Pintadas, professora da Universidade Estadual do Sul da Bahia e doutora em Cultura e Sociedade, Lourivânia é um militante da pauta climática que levou a voz do semiárido para a COP 28, em Dubai. Na próxima terça-feira (09/07) embarca para Nova York para participar de um evento da Organização das Nações Unidas (ONU).
(04.07.2024)
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